sábado, 19 de fevereiro de 2011

A ÁRVORE DE NATAL

Numa casa de família localizada numa urbanização, ali p’ros lados de Serpa, estava montada uma árvore de natal. A família era constituída por um pai como tantos outros pais, uma mãe como tantas outras mães, uma avó como tantas outras avós e por duas crianças, um menino e uma menina, iguais a tantos outros meninos e meninas que nesta quadra festiva rejubilam de felicidade e têm sonhos bem maiores do que o próprio pensamento!
Aliás, nesta família, todos adoravam o natal, até mesmo a avó que, coitada, já sem dentes, não conseguia comer os frutos secos nem outras iguarias natalícias com que se deliciara outrora…!
Mas nesta história, a personagem principal era mesmo a árvore, a árvore de natal! Como era bela, com pernadas longas e farfalhudas de um verde-escuro brilhante que adornados com guizos, fitas, luzes e lacinhos multicolores, quase a tocar o tecto, era a rainha incontestável daquela sala!
Quando recebiam visitas, o foco das atenções era a linda árvore, que co-habitando com os donos naquela casa, fazia duas semanas, já lhes havia valido uma dezena de elogios pelo bom-gosto! E as crianças…como elas gostavam de olhar para ela, ficavam quase que anestesiadas por todo aquele glamour! Nos olhos delas, havia reflexos de luzinhas a acender e a apagar e aquele encantamento era diário. Todas as conversas, naquela casa, terminavam inevitavelmente na beleza da árvore de natal!
No entanto, e a árvore? Como é que a árvore de natal se sentia? Sim, porque saibam os meninos e meninas que as árvores de natal também têm sentimentos como as pessoas! Se escutarmos com atenção as que temos em casa quase que podemos ouvi-las dizer: “olá, estou aqui para que o vosso natal tenha mais alegria e p’ra vos guardar os presentes até serem finalmente abertos!”
Pois bem, a árvore de natal, ao contrário do que os meninos possam pensar,
sentia-se muito triste e insatisfeita…Quem havia de esperar que uma árvore tão elogiada e adorada, não se sentisse feliz?!...Porque seria?! Bem, vamos lá tentar, então, descobrir…
A árvore de natal até tinha consciência de como era bonita mas ela era bonita para árvore de natal e ela queria ser uma árvore de verdade, daquelas que estão ao ar-livre e vêem os seus ramos oscilar ao sabor do vento, e sentem as patas dos passarinhos que nelas vêm pousar…Ora, ela ali fechada em casa, sentia-se infeliz. Estava farta que a vissem como uma árvore de faz-de-conta, como uma árvore de plástico, uma árvore artificial…Ela bem que olhava através do vidro da janela da sala e via ao longe as árvores com raízes plantadas na terra, muito juntinhas, como se fossem uma grande família, e desejava ser como elas, estar ali com elas, onde os seus ramos pudessem respirar o fresco ar-puro!...
Numa noite em que a avó, que já era muito velhinha, adormeceu à lareira a fazer tricô, com a janela da sala aberta e em que o resto da família dormia um sono profundo, a árvore encheu-se de coragem e lá foi com o seu tripé de plástico aos saltinhos pela sala e num esforço final, saltou tão alto que saiu pela janela e o seu tripé pisou pela primeira vez o solo húmido…Que sensação de liberdade que sentiu! Apetecia-lhe cantar mas cedo percebeu que as ditas árvores de verdade, ainda se encontravam longe dali… Para ir ter com elas e chegar lá antes que dessem pela sua falta na casa, teria que se apressar…E então lá foi com o seu tripé sempre aos saltinhos, aos saltinhos, até que depois de muito percorrer, já exausta, lá chegou por fim junto das outras árvores. Não estava vento, pelo que as árvores estavam quietinhas em silêncio, nem se movia um ramo, pareciam estar a dormir. Então, a nossa árvore foi de mansinho colocar-se no meio de duas árvores enormes das quais não sabia o nome pois nunca tinha estado no campo, só conhecia a fábrica onde fora feita, a loja onde estivera exposta e a casa onde vivera até então…
No fundo, as outras árvores não dormiam, estavam era muito quietinhas a cumprir os seus papéis de árvores…De facto, nem deram pela presença da árvore de natal pois estavam muito compenetradas na sua missão e porque estava uma noite muito escura de lua-nova!   
A árvore de natal sentiu uma felicidade como não sentira outrora! Sentia-se pela primeira vez acompanhada, sentia-se pela primeira vez uma árvore de verdade! E assim permaneceu até chegar a manhã. Mas a nossa árvore nem sabia o que a esperava…Continuemos então.
Mal os primeiros raios de sol incidiram sobre as árvores pondo a descoberto as suas robustas ramadas e o seu sólido tronco, as árvores de verdade aperceberam-se da presença daquele elemento estranho, a nossa árvore de natal, e então disseram as que estavam ao seu lado, que se tratavam de dois carvalhos:
- Mas o que é isto? Que criatura tão estranha, será de outro planeta? E sem a deixarem responder continuou um pinheiro que estava mesmo de frente para ela:
-Qual ser de outro planeta, qual quê, esta é uma árvore de natal! Sabem? Daquelas árvores de plástico, que não são verdadeiras como nós mas são fabricadas nas fábricas para comporem as casas dos humanos, quando chega o natal…
Nem podem imaginar o quão triste ficou a nossa arvorezinha. Sentia que cometiam uma injustiça mas sempre que tentava falar outra voz se sobrepunha. Neste caso o pinheiro continuava:
-Estas árvores falsas vieram substituir-nos, a nós, pinheiros verdadeiros. Desde que elas ficaram à venda nunca mais os humanos nos vieram buscar para celebrarem o natal! Estão vendo os enfeites que ela trás vestida? As fitas, os laços, as luzes…estas árvores são umas peneirentas convencidas. Têm a mania que são superiores a nós, árvores do campo, só porque estão protegidas do frio, numa casa quentinha e toda a gente as adora, enquanto nós estamos aqui, esquecidas, ao frio… ninguém se lembra de nós! E o que temos que aguentar dos pássaros, com as suas bicadas, o seu peso e então, quando têm que ir à casa de banho, temos que levar com aquilo tudo em cima, isto enquanto ela está protegida a brincar aos natais…Esta árvore é uma fraude! E todas as outras árvores repetiram:
-É uma fraude, uma fraude!...
A árvore de natal queria ter falado, queria ter dito que não era nada disso, que ela não se sentia superior, só queria ser igual a elas mas todas lhe viraram as copas e ela calou-se…calou-se até mesmo porque, no fundo, sentiu pela primeira vez na vida o quão sortuda era por ser uma árvore artificial de natal! Em parte, o que as árvores tinham dito era verdade: ela estava protegida, quentinha, todos a adoravam vestindo-a com enfeites só para a admirar! Foi então que sentiu uma saudade enorme da casa onde era adorada por todos…Então, decidiu regressar e lá foi com o tripé aos saltinhos pelo campo, movida pela vontade de voltar a ver os meninos, a avó, e os pais. Depois de muito saltar, avistou quase de lágrimas nos ramos a sua casa. Ainda era muito cedo e com um pouco de sorte a família nem teria dado pelo seu desaparecimento…A janela estava aberta e ela pôde pular para dentro de casa e colocar-se no sítio exacto onde estavam os presentes! Era agora rodeada por dezenas de embrulhos garridos, logo ela que fazia pouco tempo, se tinha sentido tão sozinha…
A família acabara de acordar e realmente não deram por nada! Dirijindo-se à árvore as crianças excitadas começaram a abrir os presentes, seguidos dos pais e da avó. Foi então que percebeu que era dia de natal! Tinha chegado mesmo a tempo de o celebrar com a família, era esta a sua família. Apercebeu-se também que não era uma árvore falsa, ela era uma verdadeira árvore de natal! E então redescobriu a alegria de ser amada enquanto todos exclamavam:
-Que linda, que bela é a nossa árvore de natal!...   Fim

ANA MARIA LIMPO ESTRELA-10-12-2010-16:2010

1 comentário:

  1. Hmmm... gostei imenso da historia, pois eu adoro fantasia e esta historia fez-me viajar numa pequena aventura junto com uma árvore de plastico, A moral da historia? É bom ser de plastico :D

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